quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Brasil já é o 7º maior investidor externo em Portugal


Nos últimos anos, os números das relações económicas luso-brasileiras não deixavam dúvidas: o investimento português no Brasil era amplamente superior ao investimento brasileiro em Portugal. Mas em 2010 as contas mudaram e nos primeiros oito meses deste ano o Brasil subiu à sétima posição entre os maiores investidores externos no mercado português, segundo dados do Banco de Portugal.

A tendência desenhada nos últimos cinco anos pode encontrar justificação no desequilíbrio das duas economias. O Brasil, um mercado muito maior que Portugal, tem um aparelho produtivo amplamente superior ao português e por essa via ganha na balança comercial: exporta para Portugal mais do que importa. Por outro lado, o leque de oportunidades de investimento (industrial e não só) é maior num país do tamanho do Brasil.

Esse enquadramento favoreceu, desde 2005, um crescimento anual de dois dígitos no investimento que Portugal tem vindo a fazer no Brasil: em 2005 o investimento bruto português no mercado brasileiro era de 350 milhões de euros e em 2009 fechou nos 539 milhões, com um crescimento médio anual de 15%.

No sentido inverso, a evolução é também positiva, mas os números absolutos mostram que entre 2005 e 2009 o Brasil sempre investiu em Portugal menos do que os capitais lusos que recebeu. Em 2005 o investimento directo do Brasil em Portugal foi de 69 milhões de euros e em 2009 ultrapassou 218 milhões, registando uma taxa de crescimento anual de 49,6%, em média.

Mas os números de 2010 mostram uma inversão. A presença no capital de algumas das maiores empresas da bolsa portuguesa é sintomática do crescente interesse dos grupos brasileiros: o Itaú é o segundo maior accionista do Banco Português de Investimento (BPI), o Bradesco é accionista de referência do Banco Espírito Santo (BES), e a Camargo Corrêa e a Votorantim têm juntas mais de metade da cimenteira Cimpor (depois de uma corrida que deixou de fora a também brasileira CSN).

De janeiro a agosto o investimento brasileiro em Portugal ascendeu a 1,82 mil milhões de euros, multiplicando por dez os 181 milhões que haviam sido investidos em igual período do ano passado. Isso fez com que o Brasil tenha saltado da 14ª para a 7ª posição entre os mercados de origem de investimento directo estrangeiro (IDE) em Portugal.

Este ano o investimento luso no mercado brasileiro apresenta também um crescimento expressivo (uma subida de 61,6%, para 445 milhões de euros até agosto), deixando o Brasil como quarto maior destino do investimento português no estrangeiro (tal como em 2009 e 2008). O Brasil, que no ano passado representara 6,87% dos capitais lusos aplicados lá fora, vale agora 10,36% do investimento português no exterior.

A AICEP - Agência para o Investimento e Comércio de Externo de Portugal reconhece, no seu mais recente dossier sobre o mercado brasileiro, publicado no mês passado, que "o Brasil continua a ser um importante destino do investimento directo de Portugal no estrangeiro". O Brasil já chegou a ser o primeiro mercado de destino dos capitais lusos em finais da década de 90.

Quanto aos números mais recentes, a AICEP explica que "em 2009, as actividades imobiliárias, alugueres e serviços às empresas, foram a principal aplicação dos fluxos portugueses (62,0%), seguindo-se o comércio por grosso e a retalho (25,8%), os quais no seu conjunto representaram perto de 87,8% do IDP no Brasil".

A agência estatal para o investimento indica que "o pipeline de investimentos turísticos portugueses no Brasil está em franca expansão", citando investidores portugueses como o Grupo Vila Galé, Grupo Espírito Santo, Grupo Pestana, Dorisol, Oásis Atlântico, João Vaz Guedes, o Aquiraz Golf & Beach Villas, entre outros. Portugal Telecom, EDP, Galp, Cimpor, Brisa, Martifer, Logoplaste e Dão Sul são outras empresas destacadas pela AICEP como exemplos de investimento português no Brasil.

"Apesar das incertezas no mercado internacional, a estabilidade macroeconómica no Brasil tem sido fundamental para garantir a continuidade na entrada de investimento directo estrangeiro (IDE) no país", avalia a AICEP.

A entidade pública portuguesa sublinha, no sentido inverso, "o recente investimento da Embraer, o qual está a impulsionar o desenvolvimento de um cluster aeronáutico no nosso país". A AICEP faz também menções a outros investimentos de empresas brasileiras em Portugal, como a CSN-Companhia Siderúrgica Nacional, a Weg Motores, a Marcopolo (que entretanto fechou a sua fábrica em Coimbra) e um anterior investimento da Embraer, adquirindo 65% das Ogma. O Banco do Brasil, o Banco Itaú Europa, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez (construção civil e obras públicas) e a Haco (etiquetas) são outras empresas brasileiras referidas pela AICEP.

A mesma entidade enfatiza o potencial de crescimento do investimento brasileiro em Portugal, traçando alguns caminhos de futuro. "Podemos destacar algumas grandes áreas de interesse para o investimento do Brasil em Portugal: biotecnologia, centros de serviços partilhados, TIC, aeronáutica e as energias renováveis, não deixando de referir também a possibilidade do estabelecimento de unidades de distribuição ou mesmo industriais, cujo objectivo final seja atingir outros mercados europeus".

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